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10 anos sem Pedro Maia

Há 10 anos o jornalismo capixaba perdia uma de suas maiores referências. Pedro da Silva Maia (1940-2014) deixou este plano por conta de falência múltipla de órgãos, mas continua vivo na memória e na história do Estado.

Maia, tio-avô deste que vos escreve, começou a carreira no final da década de 1950 no histórico periódico O Diário, cuja sede ficava na Rua Sete, no Centro de Vitória. Foi depois de ser office-boy que Pedro começou a escrever seus primeiros esboços, sendo logo chamado pelo jornal para exercer a função de repórter.

Foi na área de crônica policial, sobretudo, que Maia ficou marcado no Espírito Santo. Já na década de 1960, após breve temporada no Rio de Janeiro, ele migrou para o jornal A Tribuna, justamente para continuar os trabalhos na editoria de Polícia. Foi lá que Maia consolidou seu nome como um dos melhores repórteres policiais do Estado, versão confirmada por outros grandes nomes do jornalismo capixaba, como Rogério Medeiros, Rubens Gomes etc.

No final da década de 1960, Maia participou da cobertura história do Esquadrão da Morte, grupo de extermínio formado por policiais conhecido por fazer justiça com as próprias mãos. Foi nesse período que o jornalista cobriu um dos eventos mais marcantes do Esquadrão: o aparecimento de 11 corpos enterrados em cova rasa na Barra do Jucu, em Vila Velha.

O assunto exigia perspicácia, visto que os policiais que estavam na área do crime poderiam ter participado ou saber quem havia executado a chacina. Maia, em um momento de distração, reconheceu um dos mortos: “É o Mosquito!”, brandou. Neste momento, um militar o encarou com olhar de poucos amigos. Maia, então, reagiu rapidamente: “Nossa, tem muito mosquito nessa região”. Essa história sempre provocou risos de quem sentava à mesa com Maia para ouvir seus causos.

Alexandre Maia, um dos filhos de Pedro, relembra a atuação do profissional. “Ele sempre foi inigualável, porque o pai era um homem que conversava muito, se mantinha em contato com as fontes. Algo básico que ele sempre dizia era que se precisava ouvir a opinião do outro lado, mesmo sem concordar, era muito importante que o outro lado tivesse direito de dar resposta”, afirmou.

Como pai, segundo Alexandre, Maia viveu intensamente. “Teve uma boa família, criou seus filhos, ele sempre esteve presente. Dividíamos bons momentos, eu e meu irmão André Maia (1966-2022) saímos muito com ele pela madrugada, em seu folclórico fusca, então pra gente era uma aventura. Ele foi uma pessoa fantástica, além de sempre ter bons conselhos”, alegou.

Já em maio de 1973, Maia participou de outra grande cobertura, sendo uma das mais marcantes de sua carreira, também pelo jornal A Tribuna. O Caso Araceli teve ampla cobertura dele, que a essa altura já tinha boas fontes dentro da polícia. A primeira notícia que foi publicada sobre o tema no Estado, inclusive, foi um texto de Pedro Maia.

É claro que a trajetória dele não se resumia ao trabalho. Maia era um exímio boêmio e sempre estava acompanhado de uma (ou algumas) taças de vinho. Era assíduo frequentador do histórico Britz Bar, que reunia grandes profissionais da imprensa entre as décadas de 1960 e 1990. Além de amante de vinho, Maia também adorava futebol. Era comum fazer apostar de resultados de jogos aos finais de semana, principalmente partidas que envolvessem o Flamengo, time de coração que Maia aprendeu a amar com sua mãe, Doracy Primo Maia (1918-2001), apaixonada pelo Rubro-Negro carioca. Essas apostam aconteciam sobretudo com o irmão, também jornalista Paulo Maia (1943-2015). O que apostavam? Bebidas, é claro.

Já na década de 1990, Maia passou a assinar a coluna diária Cidade Aberta, em A Tribuna, que foi publicada até o dia de sua morte, em 5 de fevereiro de 2014. Crônicas abordando temas do cotidiano eram os temas, sempre com crítica e bom humor. Maia relembrava causos antigos da Grande Vitória envolvendo anônimos ou grandes personalidades, sempre com alfinetadas ao poder público.

Durante sua vida, Maia escreveu dois livros. Cidade Aberta (1993), com um compilado de crônicas publicadas na coluna e O Caso Lena (2014), que abordava um crime insolúvel envolvendo uma moça, estuprada e assassinada em Vitória. Este último, póstumo, foi editado pelo irmão, Paulo. Pedro morreu meses antes do lançamento.

Outra ideia do jornalista era publicar um livro sobre os crimes insolúveis do

Espírito Santo. Com décadas e décadas de experiência e colhendo fotos, artigos e textos, havia material para isso. Talvez um dia esse conteúdo veja a luz do dia.

Há dez anos, Maia deixou irmãos, filhos, diversos netos, bisnetos, sobrinhos e amigos. Apesar disso, está presente na memória de quem conviveu com a figura folclórica da Barra do Jucu e também deixou sua marca na história da imprensa capixaba. É difícil alguém que esteja na profissão há mais de 10 anos e que não tenha ao menos uma história envolvendo Pedro Maia. Que continue assim, na lembrança de todos.

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*Especial para o Sindijornalistas/ES. Por Eduardo Maia, jornalista e sobrinho-neto de Pedro Maia.