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Todos se curvam aos donos do poder

Suzana Tatagiba

Por várias vezes chamei a atenção das pessoas que colocavam a imprensa como quarto poder. Sempre neguei este fato. Uma tolice de minha parte, reconheço. Nos meus quase 30 anos de jornalismo sempre fiz questão de falar, principalmente aos meus alunos, que a imprensa tem o poder de mediador entre sociedade e poderes constituídos, e tem como poder o interesse público e a preocupação com o social.

Mas na última quarta-feira (17/6) tive a clara certeza de que estava redondamente enganada. A imprensa, ou seja, as empresas de comunicação deste país não são o quarto poder. O baronato da mídia é o dono do poder neste país.

Todos os poderes constituídos no Brasil se curvam aos donos do poder e o Supremo Tribunal Federal também se curvou. Num ato equivocado, o Supremo confirmou ontem o que já sabíamos, mas queríamos estar enganados, de que no Brasil não existe liberdade de imprensa e de expressão, mas, sim, liberdade total e escancarada de empresa.

O fim derradeiro à exigência do diploma de graduação superior para obtenção do registro de jornalista coloca em risco a nossa profissão e até a democracia brasileira. Pois, a partir de agora, como bem afirmou a matéria no Jornal Nacional exibida na noite da própria quarta-feira, a decisão do STF não acaba com o registro de jornalista, apenas daqui para frente os profissionais serão contratados a partir de critérios estabelecidos pelas empresas de comunicação. Pois é, jornalista, a sua qualificação profissional caiu por terra, os critérios agora são outros. Bom, começamos a partir de hoje a política da porteira aberta, e salve-se quem puder!

Curiosamente, cai o diploma para jornalista justamente quando a sociedade está discutindo as políticas de comunicação, via conferências estaduais e municipais.  Como bem afirma a nota da Federação Nacional dos Jornalistas, “o voto dos ministros do Supremo humilha a memória de gerações de jornalistas profissionais e, irresponsavelmente, revoga uma conquista social de mais de 40 anos”.

Mas a FENAJ e seus 31 sindicados filiados não acabaram. Estamos vivos e bem alertas, e a partir de agora, assumimos o compromisso público de seguir lutando em defesa da regulamentação da profissão e da qualificação dos jornalistas. Atuaremos junto às nossas assessorias jurídicas para que sejam tomadas todas as providências contra as tentativas de desqualificação do jornalismo e de precarização da nossa profissão. .

Para finalizar me reporto novamente à nota da Fenaj “Somos 80 mil jornalistas brasileiros, milhares de profissionais que, somente através da formação, da regulamentação, da valorização do seu trabalho, conseguirão garantir dignidade para sua profissão e qualidade, interesse público, responsabilidade e ética para o jornalismo. Para o bem do jornalismo e da democracia, vamos reagir a mais este golpe”.

Suzana Tatagiba
Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Espírito Santo