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A Saúde Mental do Jornalista em tempo de pandemia

Andréa Margon – diretora do Sindijornalistas ES

O mundo deu uma reviravolta nos seus costumes. A Covid-19 chegou num pé de vento e transformou sociedades e o mundo do trabalho não escapou. Os trabalhadores tiveram de se adaptar às novas regras de segurança sem deixar de lado a atividade laboral. Mas, como fica a saúde mental daqueles que estão na linha de frente da pandemia? Os profissionais de saúde não são os únicos. Os jornalistas também compõem grupo de risco.

Roberta Belizário Alves, psicóloga

Para saber mais sobre esse tema, conversamos com Roberta Belizário Alves, psicóloga com mestrado em Ciências da Saúde e doutorado em psicologia e servidora pública na Coordenação de Vigilância em Saúde do Trabalhador, da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória (ES).

O jornalista, das redações ou em alguma assessoria precisa encarar o medo ao sair de casa e, segundo Roberta Alves, o “medo é uma emoção básica do ser humano e tem uma função psicofisiológica importante, que é de proteção. O medo chama a atenção para um perigo iminente e nos mobiliza a nos proteger. Só que o medo também tem o outro lado, que é o de nos paralisar”.

Ela fala que podemos usar o medo a nosso favor ou contra nós. “Quando o medo nos sinaliza a necessidade de proteção, ele age de maneira favorável para o nosso psiquismo. Mas, se a gente paralisa diante dele, se esse medo prejudica nosso dia a dia, nossas tarefas, aí ele age contra nós. Tudo vai depender de como a gente encara esse medo. Nós devemos ter medo nessa situação de pandemia? Sim, mas o medo protetivo, aquele medo que diz: olha, cuidado, é uma situação delicada, complexa e há riscos. Ter o medo no sentido de ter consciência dos riscos para você poder se proteger. Por exemplo, o medo quando nos paralisa pode nos impedir de sair de casa, podemos até desenvolver algum tipo de fobia”. Segundo a psicóloga, é muito importante encarar esse medo como um aliado na nossa defesa. “A gente sair por aí sem medo algum também pode nos colocar em risco. A vida segue, mesmo com os riscos de contaminação e devemos encarar o medo de frente”.

O jornalista sai, basicamente, todos os dias para o exercício do seu trabalho e encontra e/ou faz contato com diversas pessoas e se envolve em inúmeras situações e isso é risco. Roberta Alves fala que “conhecimento é poder e que quanto mais informação você tem sobre as coisas melhor e os jornalistas sabem muito bem disso. Quanto mais informações fidedignas e sólidas tivermos sobre algo, mais poder, mais controle a gente tem. Você tem informações e de posse delas você pode se proteger, inclusive das pessoas que, talvez, não estejam cumprindo as orientações”. Ela fala que saber que o jornalista tem o controle sobre os protocolos e se sentir no controle das situações reduzem o medo.

Sobrecarga de trabalho

Os cortes de pessoal, promovidos pelas empresas de comunicação no último ano, provocou o aumento no volume de trabalho dos jornalistas. Embora a tensão, existe a possibilidade de relaxar. Roberta Alves fala da necessidade de se organizar tempo e tarefas, principalmente, se estiver em home office. “Separar o que é horário de trabalho e o que é horário de não trabalho. Definir limites é importante. O trabalho do jornalista tem por característica a flexibilidade de tempo de horário de trabalho. A notícia não tem hora, não cumpre expediente comercial de 08h às 17h, mas, mesmo dentro desta flexibilidade deve se estabelecer alguns limites em termos de carga horária de trabalho e do horário que você definir. Lógico que como em qualquer situação e em qualquer trabalho deve-se fazer pausas. Mas, fazer pausa de verdade. Naquele momento de recesso, você não deve se dedicar a qualquer atividade de trabalho, como telefonar ou atender telefonemas. Esta pausa é importante para aliviar a carga mental que foi mobilizada durante a atividade de trabalho. Se afaste do local onde estiver trabalhando, mesmo que esteja em home office. Mude de ambiente. Desliga! ”.

Família

A relação familiar, para aqueles que saem para o trabalho e para os que estão home office, tem sido um dos maiores desafios durante a pandemia. Roberta fala que o contato com a família nuclear ficou mais intenso (home office) e que com a família extensa está um pouco mais distante. “São duas situações opostas, mas que impõem desafios importantes para se manter uma relação saudável. O importante, neste momento, é valorizar esse tempo que a gente passa em família, que é um suporte muito importante. Dedicar um tempo de qualidade, porque não é o fato de você estar o tempo todo dentro de casa que você está dedicando um tempo a ela. Muitos psicólogos e pensadores têm colocado esta questão como desafio. Têm se apresentados problemas conjugais e aumento da violência doméstica em função do confinamento. O diálogo é importante. É estar a todo tempo dizendo como se sente, o mesmo na situação de trabalho e colocar seus limites”.

Sabe aquele momento que você desliga? Pois é, faça sempre que achar necessário. Roberta Alves fala que a periodicidade depende da necessidade individual. “Tem gente que tem mais necessidade de ficar sozinho, tem gente que tem menos, mas uma coisa importante é que no momento em que você possa estar sozinho que, realmente, você esteja presente nesses momentos, esteja consciente e aproveite esses momentos, mesmo que sejam breves. Exemplo: quando estiver lavando uma louça ou tomando banho, que você esteja ali presente e desfrute, porque é um momento que se pode usar como momento de reflexão. Não há necessidade de se isolar num cômodo da casa para entrar e estado meditativo. Quando entrar neste momento reflexivo, se for necessário, fale com a família de que você precisa daquele momento para refletir, por isso a importância do diálogo em família”.

Atividade física versus trabalho, uma questão difícil de se resolver para algumas pessoas. Como conciliar com a carga de trabalho exaustante e o trabalho doméstico? Segundo Roberta, existem diversas áreas que apresentam alternativas para conciliar estes pontos, mas a verdade é que cada um sabe “onde o calo aperta”. “Cada um tem de encontrar a própria forma de conciliar. A prática da atividade física é importante e cada um faz a sua regra. Vale a criatividade e alternativas não faltam. Procurar não se acomodar e não usar a questão do tempo como desculpa para não fazer exercícios”. E ela fecha a nossa entrevista dando uma dica: o canal de Serviço de Orientação ao Exercício (SOE), da Prefeitura Municipal de Vitória, no You Tube. Lá existem diversos tipos de aulas para todas as faixas etárias e necessidades individuais.

Os jornalistas do Espírito Santo podem contar, efetivamente, com o Sindijornalistas ES. Procure-nos para falar. Estamos disponíveis para ouvir e orientar em diversos segmentos.