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Aprendizados e muitas transformações no mundo do jornalismo

Por Célia Marques

Nasci em agosto de 1962 numa cidadezinha do interior da Bahia, em uma família de mulheres, e sou parte de uma geração de mulheres jornalistas guerreiras. Numa sociedade majoritariamente masculina, aprendemos logo cedo a superar limites e a não nos sujeitar ao machismo e à opressão social. Digo isso porque enfrentamos muitas adversidades mas seguimos em frente estudando, lutando e conquistamos nosso lugar no mercado de trabalho, na maior parte do tempo a “duras penas”. Hoje sei que o nosso norte sempre foi a igualdade de direitos e a liberdade de ir, lutar e vencer.       

Assim, falar da minha trajetória como jornalista é voltar no tempo e enxergar homens e mulheres fundamentais para meu crescimento pessoal e profissional. Alguns, verdadeiros “combustíveis”.  

Aos 10 anos, em 1972, junto com meus pais e minhas quatro irmãs, mudamos de Medeiros Neto para Vitória, porque a minha irmã mais velha tinha o sonho de ser médica. E aqui, ressalto a importância de meus pais, Olímpio e Maria de Lourdes, que colocaram a educação das cinco filhas em primeiro lugar, numa época em que, na maioria das famílias, as meninas eram educadas para serem esposas/donas de casa/mães.

Morávamos no Centro de Vitória e estudávamos no antigo Colégio Brasileiro. Um dia o proprietário e diretor do colégio me perguntou o que eu queria ser quando crescesse, ao que prontamente respondi que queria ser jornalista e trabalhar com Comunicação. Dele ouvi que, com estudo e dedicação, eu iria conseguir porque já sabia, “com exatidão o que queria ser.” Aquela conversa me ajudou a definir meu futuro e, após concluir o curso Técnico de Secretariado Bilíngue, fui aprovada no curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santos (UFES). Estudei em um turma composta em sua maioria por mulheres; eram apenas três homens.

Na universidade aprendi sobre a responsabilidade de ser jornalista, sobre nosso papel na sociedade e, com alguns professores, aprendi que para ser bom profissional é necessário aprimorar e desenvolver, da melhor forma possível, nossas habilidades.

Lembro muito bem dos queridos Glecy Coutinho, Celso Perota, Domingos, David Prott, Erly dos Anjos, Bete Rodrigues, Hésio Pessali, dentre tantos outros que nos mostraram a importância do conhecimento para muito além da formação universitária. Foram tempos de muitas greves dentro e fora da universidade e de transformações no mundo. Época, por exemplo, que o IBM Personal Computer foi lançado.

Comecei no jornalismo como estagiária na antiga Rádio Vitória, que funcionava no edifício Moisés, no centro de Vitória, produzindo pautas e redigindo boletins diários para os noticiários. Depois passei a fazer entrevistas e, por fim, fui locutora/noticiarista no programa de Luiz Eduardo Nascimento, para mim, uma honra já que eu era iniciante e ele, um dos tops do rádio capixaba. Nunca me esqueço que Luiz Eduardo não dispensava o bom humor, nem o acompanhamento de um copo duplo de vodca, isto também uma novidade para mim. Na rádio Vitória, convivi com outros grandes nomes do rádio como Pedro Luiz, Dery Santos, Hino Salvador, Peçanha, Bidu e aprendi a ser criativa e a ter bom humor para prosseguir na profissão.

No jornalismo, merece uma especial deferência a José Maria Batista que em uma máquina Olivetti, produzia textos maravilhosos usando apenas os dedos indicadores, é impossível não lembrar.

No emprego seguinte, já na TVE, tive a oportunidade de ser repórter e apresentadora trabalhando com duas mulheres aguerridas, Vera Viana e Cristina Valadão. Fomos pioneiras no telejornalismo capixaba com um programa diário, ao vivo, de uma hora de duração, sobre o universo feminino, o Mulher Mulher. Na TVE trabalhei com grandes profissionais como Fátima Côgo, Janete Braga, Maura Miranda, Márcia Gáudio, Thelmo Scarpini, Geruza Conti, Glória Mussielo, Gisele Paiva, Jorge Félix. Juntos cobrimos a visita do Papa João Paulo II a Vitória; fizemos grandes coberturas eleitorais; tive a oportunidade de entrevistar Augusto Ruschi, Mauricio de Oliveira, Caco Barcellos, Cariê Lindenberg e o trabalho como jornalista me possibilitou o contato com grandes nomes do jornalismo capixaba como Rogério Medeiros, Maura Fraga, Joaquim Nery.

Dei uma pausa na carreira entre os anos 1990 e 1995 e fui morar na Europa, em Portugal e na Inglaterra, de onde retornei ao Brasil com uma bagagem profissional ainda maior. Me tornei mãe solo de uma menina linda e vivi o feminino que a condição de mãe nos proporciona. Minha filha tinha 6 meses quando retornei ao mercado de trabalho e, sendo mãe e pai, passei a trabalhar em jornada dupla, na TVE  e na TV Tribuna, onde cobria basicamente as pautas de polícia, o forte da emissora naquela época. No dia a dia com Eustáquio Palhares, Renato Paolielo, Waleska Merçon, Janete Carvalho, Sérgio Porto aprendi “a ser dura sem perder a ternura”.

Em seguida, a convite de Carminha Corrêa fui para a TV Vitória para ser repórter e apresentadora e, além de trabalhar com a grande Jeanne Billich, conheci também a tripla jornada trabalhando, à noite, para o programa de Wesley Sathler. 

No universo televisivo aprendi a me comunicar com clareza e efetividade, tanto verbalmente como por escrito, como também compreendi, que o “glamour” de ser repórter e apresentadora era, sim, trabalhar o tempo todo com prazos apertados, sob condições estressantes. A maior parte do tempo trabalhamos sob pressão.

Tive muitos outros empregos como assessora de Imprensa em empresas públicas e privadas e trabalhei em campanhas eleitorais com a jornalista Bete Rodrigues, com quem eu havia estagiado no jornal A Gazeta. Com ela aprendi não só a aprimorar o pensamento crítico como também a fazer campanhas políticas.

Guardo com muito carinho as lembranças do trabalho na assessoria de comunicação da Prefeitura de Vitória nos mandatos do Prefeito João Coser (2005-2008 a 2009-2012), atendendo a diferentes órgãos como CDV, Secretaria de Segurança Urbana e Secom. Na época, tive a oportunidade de realizar, junto com Jovan Demoner e Milson Henriques, dois projetos voltados para as áreas de educação e valorização do patrimônio histórico e cultural, que estão inscritos na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Também, guardo ótimas lembranças de trabalhar com grandes amigos, como Suzana Tatagiba, Carlos Antolini, Mirela Adams, Eliza Zamagna, Tarcísio Lins, Simone Kobe, Fabrício Faustini.

E, após tantos anos de trabalho e, integrando uma geração portadora de diploma universitário, não posso deixar de ressaltar a importância do diploma para o exercício do jornalismo. E destaco, neste particular, a luta contínua do nosso Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo  pela volta da exigência do diploma e que, há anos, aguarda decisão da Câmara dos Deputados. Nunca estive em uma direção do Sindicato dos Jornalistas mas sempre fui sindicalizada porque entendo que a categoria só é forte quando valoriza e participa do Sindicato.

Estamos em 2024 e já tivemos muitos avanços na comunicação social mas também muitos retrocessos, tempos bem difíceis, seria bom as pessoas refletirem sobre a definição do que é ser JORNALISTA, um profissional responsável pela investigação, apuração e apresentação de fatos de interesse público e que se traduzem nas mais diferentes formas, como notícias, reportagens, artigos e entrevistas. Para ser jornalistas precisamos ter vasto conhecimento, lidar com a verdade, ler e estudar sempre e nos capacitar continuamente para o bom exercício da profissão.

Ainda na minha trajetória estudantil me filiei a um partido político de esquerda. Lá se vão mais de 30 anos e, de forma semelhante à força de um sindicato, sei da fundamental importância do poder politico-partidário no fortalecimento de nossas lutas.

E hoje, muito mais do que ontem, posso dizer que é gratificante e muito emocionante estar do lado certo da História. Agradeço a Deus pelas vitórias. Pelo caminho que sigo ao lado da minha família e dos amigos. Falo todos os dias com os amigos que fiz ao longo do caminho, sou feliz e tenho orgulho da minha trajetória de vida! Há um ano e meio, aos 59 anos, mudei para os Estados Unidos onde me casei, voltei a estudar, e, nesta nova etapa de minha vida, estou lidando com muitas surpresas, em breve, vou ser vovó, a minha filha Bruna está grávida!

Não sei quem é o autor desta frase, mas, gosto da mensagem e a cito sempre: “Ser JORNALISTA é ter o dom de ligar as pessoas ao Mundo.”

Creio que estou cumprindo bem o meu papel.